sexta-feira, 2 de maio de 2008

QUEM NÃO DEVE NÃO TEME


Como diz o ditado: “quem não deve não teme”... E essa história real que vou lhes contar é muito recente. Um certo lighting designer estava em plena atividade na preparação de um show de pagode para uma grande casa de espetáculos. De repente, ele foi informado por um dos funcionários do local que estava sendo chamado por uma senhora lá fora. Passado algum tempo, outro funcionário veio chamá-lo, dizendo que havia uma senhora afirmando que tinha um encontro marcado com ele.
Ele continuou trabalhando sem dar muita importância (atolado como sempre!). Então, pela terceira vez (e agora era o chefe da segurança da casa) ele foi chamado (intimado, né?) a atender a dita senhora.
Tudo estaria muito bem, se não fosse por um pequeno detalhe, bastante frisado pelo segurança: a senhora estava em adiantado estado de gestação. Não deu outra... O iluminador, que não é nenhum santo, entrou em parafuso. Rodou mais do que baiana bêbada. Ficou colorido de todos os tons que há no catálogo de gelatinas (ficou color changer).
Todos já haviam percebido a sua agonia e um caridoso decidiu conferir de perto a situação. Depois de uns minutos, ele volta com a triste notícia de que se tratava realmente de uma mulher “bem grávida”.
- “Oh, céus! Como isso pode acontecer?”, pensou.
Ele próprio tentou verificar o que poderia ser através de uma fresta existente na porta da casa de espetáculos. Ele não tinha ânimo para enfrentar o caso de frente. Tinha medo, muito medo.
-“Como isso foi acontecer? Tomei sempre tanto cuidado. Quem será? Deve haver algum engano. Não pode ser comigo. Deus, não é justo! Eu não fiz nada... Oh, céus! Oh, azar!”
O tempo ia passando e a pobre senhora já estava cansada de esperar (agora sentada em uma cadeira fornecida pelo segurança). Ela ainda insistia para que fossem buscar o iluminador ou que a deixassem entrar.
-“Não pode, minha senhora! Ordens da casa”, foi categórico o segurança. E tornou a procurar o iluminador que àquela altura já estava tendo espasmos de nervosismo.
O trabalho estava interrompido e a galera dando o maior apoio:
-“Vá lá... Vá lá... Assuma logo!”, gritavam.
-“Cara, você tem que ir. Enfrenta logo!”, disse o segurança com um olhar de poucos amigos.
A chefe da cozinha, muito penalizada, consolava o iluminador:
-“Vá filho, enfrente. Ela está tão barrigudinha... Tão bonitinha... O bebê deverá ser lindo, tenho certeza.”
Suando muito e em pânico, não tendo como escapar ele, finalmente, tomou coragem. Respirou fundo, levantou o nariz, engatou uma primeira e foi ver do que se tratava. Qual não foi sua surpresa... O crime não era seu! (se é que se pode chamar assim).
Oh, alma culpada! Tratava-se da esposa de um outro iluminador que, muito amante do pagode, estava procurando-o na intenção de pedir um convite para assistir o show. Ele não a via há algum tempo e não sabia que estava grávida. Ufa, ufa. Ufa! Que satisfação dupla: não só rever uma grande amiga, mas também ter escapado dessa vez (será que haverá alguma outra vez?).
Gargalhando muito, ele lhe contou o caso.
-“Ah, então, era por isso que você me deixou aqui plantada tanto tempo?”, perguntou a senhora.
Ele foi buscar o convite, entregou e despediu-se, voltando imediatamente para seu posto junto a mesa que estava programando. O coração solto de alívio.
-“Dessa vez escapei!”, pensava consigo mesmo.
Mas o que ele não sabia, ela que ela no maior bom humor e com uma pitada de vingança dirigiu-se ao chefe da segurança e lhe falou:
-“Obrigado pela cadeira. Eu vim aqui para resolver um assunto de pensão que ele me deve. Ah, ah, ah...!!”

É amigos, no showbusiness nós somos os “marinheiros da luz”... Uma em cada porto (cidade).
Mesmo assim: QUEM NÃO DEVE NÃO TEME.....


* Crônica publicada na revista Luz & Cena de dezembro de 2001, onde mantínhamos, meu irmão Bimbão (que me fornecia oralmente as histórias) e eu (que escrevia as crônicas), uma coluna chamada Cena Livre, onde publicávamos histórias meio cômicas, acontecidas com profissionais da luz e som.

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