Quase todas as minhas histórias de algum modo giram em torno de iluminação. Esta história não é sobre iluminação. Desta vez, trata-se de uma história que ocorreu comigo.
Todos que me conhecem, sabem do amor que tenho por São Pedro da Aldeia. Lugar tranqüilo e adorável. Vivi lá uma época muito feliz. As pessoas eram muito divertidas e como toda cidade do interior, sem muitas opções de lazer, socializávamos ao extremo. Quase todos se conheciam e se falavam.
Bem, essa história refere-se à boa-fé das pessoas e suas boas intenções.
Quando morei em São Pedro da Aldeia, freqüentava uma academia de ginástica, a Academia do Cleber. Era uma maravilha! Academia pequenina, simples, aconchegante e com muito boa companhia. Mas, como tudo que é bom, por vezes, acaba, o Cleber estava fechando a academia de São Pedro e ficaria só com a que ele já tinha em Cabo Frio.
Para encerrar as atividades, o Cleber resolveu fazer uma festinha de despedida. Pediu-me para providenciar o gelo e o refrigerante (os salgadinhos e docinhos as meninas providenciariam) e para tanto deu o dinheiro necessário. Ficamos acertados e ele deu-me a chave da academia. A festinha seria naquela noite.
Saí, encomendei o gelo, preparei o isopor e comprei o refrigerante, porém, achei que só aquilo não bastava. Estava muito pobre!
Saí outra vez e comprei papel crepom e muitas bolinhas de soprar (essas de aniversário).
Voltei para a academia e não consegui soprar uma só bolinha. Como estava resfriada, cada vez que tentava soprar uma bolinha começava a tossir.
Então, tive a bela idéia de pedir ajuda para alguém. Saí da academia e na calçada, quase em frente, estava sentado no meio fio um rapaz muito conhecido em São Pedro. Era um rapaz muito bonito e desejado pelas moçoilas da época. Louro, meio forte e com cabelos lindos e longos (até os ombros).
Apesar de ter falado com ele muitíssimo pouco (apenas alguns: “bom dia, como vai?”), armei-me de coragem e fui falar com ele (afinal, bem que o Cleber merecia uma festa completa).
Fui chegando devagar, meio sem graça e falei:
- Oi! Olhe, estou com a chave da academia. Será que você não quer ir lá fazer uma coisa comigo?
- Claro, porque não?
Fomos andando para a academia e quando subíamos as escadas eu notei que seus olhos tinham um brilho meio estranho e que estava se chegando para mim. Fiquei quieta e continuei subindo as escadas.
Entramos na sala e ele me perguntou:
- Ok, aqui estamos! É aqui mesmo?
- Sim, é.
- Então, vamos...
Mais que depressa, coloquei um colchonete no chão e pedi para ele sentar-se ali.
Ele parecia inquieto e me perguntou:
- Não tem cerveja?
- Não, aqui é uma academia e eu não estou bebendo porque estou tomando remédios para o resfriado e a sinusite.
Dito isso, tratei logo de arrumar as coisas. Abri um pacote de bolinhas e entreguei para ele.
Ele olhou-me sem entender e perguntou:
- O que faço com isso?
- Sopre, por favor.
- Foi para isso que você me chamou?
- Sim.
- Mas eu pensei que fôssemos fazer algo...
- E isso não é fazer algo?
- Pensei em algo diferente...
- Não sei o que você pensou (claro que sabia!), mas será que você poderia me ajudar a organizar a festa? Não consigo soprar porque começo a tossir.
Ele começou a rir e respondeu:
- É, não era o que eu pensava, mas não faz mal...! Vou te ajudar porque não tenho nada para fazer agora.
- Ok. Depois, você mesmo não sendo da academia, pode vir para a festa.
- Obrigado, mas, mais tarde eu tenho um compromisso. Porque você não abre as janelas, já que só vamos arrumar a festa?
- E estragar a surpresa? Nem pensar!
Ficamos a tarde toda trancados, eu pendurando bandeirinhas e fitas de papel crepom e ele soprando as bolinhas, com o maior bom humor.
Quando o Cleber chegou para a festa e viu a sala tão bonita e enfeitada para a nossa despedida, emocionou-se de tal forma que chorou. Era tudo o que eu queria. Fazer uma linda surpresa para um amigo tão querido.
Quanto ao louro lindo, ficamos mais “vizinhos” do que antes.
Em uma cidade pequena parece que somos todos vizinhos. Depois daquela tarde, quando nos encontrávamos, sorríamos com uma cumplicidade inocente.
Na verdade, eu estava com uma boa intenção ao fazer a festa e com “boa fé” ao convidá-lo. Ele estava, com boa fé quando aceitou e com “boa intenção” ao acompanhar-me. Tudo depende da interpretação!
quarta-feira, 11 de junho de 2008
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