
Como sempre, ou quase sempre, minhas histórias versam sobre iluminação e iluminadores. A razão disso é que sou irmã de um grande iluminador (O Maior!).
Seu nome Luis Carlos, mas todos, todos mesmo, o conhecem por “Bimbão”. Há quem nem saiba o seu nome de batismo.
Para as pessoas do meio artístico ele é figura querida, prestigiada e todos sabem a “peça” que ele é. Alguns o chamam de Bimbão Explosão (Erasmo Carlos é um deles) e a razão disso é uma travessura que ele aprontou.
Lá pela década de 80, ele tinha um show para fazer em São Paulo e resolveu ensaiar os efeitos que pretendia usar.
Nessa época, ele morava em um apartamento em Copacabana, que me pertence. Eu, morava em Ipanema.
Bem, situados geograficamente, vamos aos fatos!
Eu estava dormindo e fui acordada pelo telefone (eram umas 7 horas da manhã). Atendi e uma voz estranha me perguntou:
- A senhora é a irmã do Bimbão?
- Sim, do que se trata?
- Bem... tenho um recado para a senhora.
- Diga.
- Bem... o Bimbão pediu para eu dizer-lhe que deve ir para a 12ª delegacia, imediatamente.
- Nossa! Por que?
- Não sei bem... parece que ele explodiu o apartamento.
- Que horror! Ele está bem?
- Ele está. O João é que se machucou.
Ouvindo isso, eu pulei da cama, vesti-me como pude e “voei” para a delegacia. Lá chegando, encontrei o Bimbão extremamente assustado (nunca o tinha visto assustado assim) e perguntei:
- Você está bem?
- Estou. O João é que se machucou um pouco.
- Meu Deus, Bimbão! O que vocês fizeram?
- Bem... nós estávamos testando um efeito de cogumelo para o show de São Paulo e não deu certo.
- Por que não deu certo? Eu já disse que você não devia fazer experiências dentro do prédio? Isso dá cadeia! Você pode ser enquadrado como terrorista!
- É, eu sei que você falou, mas era uma experiência tão simples!
- O que deu errado?
- Acho que nós (eu ou o João) trocamos as pólvoras. Era para ser aquela que só faz fumaça e no caso era a que explode.
- E agora? O que fazemos?
- Aqui está indo tudo bem. O Ary está falando com o delegado. Vá para o apartamento e veja como estão as coisas. A Rosa (a faxineira dele) está lá. A polícia está revistando o apartamento.
Saí correndo, correndo mesmo. Chegando ao prédio, a bagunça era total. Para começar, subi no elevador com uma equipe da TV Manchete que estava filmando para o jornal do meio dia.
Saí do elevador e fui ver os estragos. E que estragos! A explosão não fora exatamente no apartamento. O esperto fez a experiência no hall interno do andar. Estavam arrebentados: o elevador de serviço, a porta de serviço do vizinho e todos os vidros. As paredes estavam salpicadas de sangue, porque o João se cortou nos vidros que explodiram.
Tremendo, bati na porta do apartamento. Um guarda muito mal encarado atendeu.
- O que a senhora quer?
- Quero entrar.
- Não pode. Isso é cena de crime.
- Meu senhor, preciso entrar, sou a dona do apartamento.
Ele chamou a Rosa e perguntou:
- Você sabe quem é esta senhora?
A Rosa, aos prantos e quase sem poder responder, falou:
- Sim, sei. Ela é a dona do apartamento e irmã dele.
- Ok. Vou deixá-la entrar, mas não mexa em nada.
O apartamento estava na maior confusão. Tudo jogado no chão. Os armários abertos, as gavetas desarrumadas e um policial estava revirando os bolsos das roupas penduradas no armário.
- O que o senhor procura?
- Drogas.
- Desista. Ele não se droga, é maluco por natureza.
- Não é possível! Se tem pólvora, tem que ter droga.
- Senhor, ele não se droga. Eu saberia.
- Tem coisas que a gente não conta nem para a irmã.
- Eu sei. Mas “isso” eu saberia.
- Vou achar droga aqui... (continuou teimoso)
- O senhor já vasculhou tudo?
- A cozinha e a sala já. Estou no quarto e vou para o banheiro quando acabar aqui.
- Ok. Será que eu posso usar o banheiro? Preciso muito.
- Vá.
Entrei no banheiro, fechei a porta com cuidado e fui direto para o armário grande e procurei a pólvora. Achei. Meu Deus! Era mais de um quilo, com certeza! Olhei ao redor e achei um vidro de Nescafé vazio que ele usava para colocar a pólvora para os shows. Enchi o vidro de pólvora e despejei o resto na privada, tomando o cuidado de colocar o vidro no lugar onde estava a pólvora anteriormente. Eles tinham que achar alguma coisa, pensei. Se o Bimbão tivesse que ir para a cadeia que fosse por ser doidinho (que ele é) e não por ser terrorista (que ele não é). Saí quietinha do banheiro e fiquei só observando.
A bagunça durou o dia todo. Quando começava a anoitecer, ele apareceu. Tinha sido solto porque provamos que ele é só maluco e não outra coisa. Entrou no apartamento e ficou horrorizado com a bagunça.
- Nossa! Estou morrendo de fome!
- Bimbão, saí com tanta pressa que não trouxe nem a bolsa. Estou até sem os documentos do carro. Não tenho nenhum dinheiro aqui.
- Eu também não, mas vou resolver isso.
Saiu do apartamento (eu fui junto) e tocou a campainha do vizinho, cuja porta ele havia destruído.
- Desculpe pelos estragos, juro, vou pagar por tudo! Seu David, hoje o dia foi meio difícil para mim, não tive tempo de ir ao banco (claro, ele estava preso!) e estou sem dinheiro, poderia me emprestar 10?
Eu pensei: “É agora! O velhinho (pois se tratava de um senhor idoso) vai ter um piripaqui!
Para meu espanto, ele foi prontamente pegar o dinheiro e ainda perguntou:
- Meu filho, isso chega?
Pode??? Fiquei boquiaberta. Voltamos para o apartamento e falei para ele:
- Bimbão, pelo menos vá se desculpar com a síndica. Eu fico aqui te esperando e depois vamos comer.
O tempo foi passando e ele não voltava. Minha agonia aumentando. Será que ela matou o Bimbão só de raiva?
Desci para ver o que estava acontecendo. Toquei a campainha e a sindica atendeu.
- Meu irmão está aqui?
- Sim, entre. Ele está fazendo um lanchinho. Coma também. Com certeza vocês não comeram nada.
Entrei na sala e o Bimbão estava tomando chá com bolo. Falei:
- Dona Norma, desculpe os transtornos de hoje.
- É, foi horrível. O prédio todo estremeceu. Teve gente que saiu de cuecas, outros de camisola. Alguns saíram só com os documentos e a imagem de Nossa Senhora.
- Lamento muito. Vamos consertar tudo.
- Eu sei! Você sabia que eu apareci na TV? Noticiário do meio dia. Veja o jornal da noite e me diga se estou muito feia. Não tive tempo de me arrumar. Eu estava de camisola, lá na rua.
Fiquei mais pasma ainda. Que gente é essa? O lesado deu dinheiro para ele. A sindica está preocupada com a imagem. O que é isso?
Isso é Bimbão!! Meu muito amado irmãozinho!!!
Seu nome Luis Carlos, mas todos, todos mesmo, o conhecem por “Bimbão”. Há quem nem saiba o seu nome de batismo.
Para as pessoas do meio artístico ele é figura querida, prestigiada e todos sabem a “peça” que ele é. Alguns o chamam de Bimbão Explosão (Erasmo Carlos é um deles) e a razão disso é uma travessura que ele aprontou.
Lá pela década de 80, ele tinha um show para fazer em São Paulo e resolveu ensaiar os efeitos que pretendia usar.
Nessa época, ele morava em um apartamento em Copacabana, que me pertence. Eu, morava em Ipanema.
Bem, situados geograficamente, vamos aos fatos!
Eu estava dormindo e fui acordada pelo telefone (eram umas 7 horas da manhã). Atendi e uma voz estranha me perguntou:
- A senhora é a irmã do Bimbão?
- Sim, do que se trata?
- Bem... tenho um recado para a senhora.
- Diga.
- Bem... o Bimbão pediu para eu dizer-lhe que deve ir para a 12ª delegacia, imediatamente.
- Nossa! Por que?
- Não sei bem... parece que ele explodiu o apartamento.
- Que horror! Ele está bem?
- Ele está. O João é que se machucou.
Ouvindo isso, eu pulei da cama, vesti-me como pude e “voei” para a delegacia. Lá chegando, encontrei o Bimbão extremamente assustado (nunca o tinha visto assustado assim) e perguntei:
- Você está bem?
- Estou. O João é que se machucou um pouco.
- Meu Deus, Bimbão! O que vocês fizeram?
- Bem... nós estávamos testando um efeito de cogumelo para o show de São Paulo e não deu certo.
- Por que não deu certo? Eu já disse que você não devia fazer experiências dentro do prédio? Isso dá cadeia! Você pode ser enquadrado como terrorista!
- É, eu sei que você falou, mas era uma experiência tão simples!
- O que deu errado?
- Acho que nós (eu ou o João) trocamos as pólvoras. Era para ser aquela que só faz fumaça e no caso era a que explode.
- E agora? O que fazemos?
- Aqui está indo tudo bem. O Ary está falando com o delegado. Vá para o apartamento e veja como estão as coisas. A Rosa (a faxineira dele) está lá. A polícia está revistando o apartamento.
Saí correndo, correndo mesmo. Chegando ao prédio, a bagunça era total. Para começar, subi no elevador com uma equipe da TV Manchete que estava filmando para o jornal do meio dia.
Saí do elevador e fui ver os estragos. E que estragos! A explosão não fora exatamente no apartamento. O esperto fez a experiência no hall interno do andar. Estavam arrebentados: o elevador de serviço, a porta de serviço do vizinho e todos os vidros. As paredes estavam salpicadas de sangue, porque o João se cortou nos vidros que explodiram.
Tremendo, bati na porta do apartamento. Um guarda muito mal encarado atendeu.
- O que a senhora quer?
- Quero entrar.
- Não pode. Isso é cena de crime.
- Meu senhor, preciso entrar, sou a dona do apartamento.
Ele chamou a Rosa e perguntou:
- Você sabe quem é esta senhora?
A Rosa, aos prantos e quase sem poder responder, falou:
- Sim, sei. Ela é a dona do apartamento e irmã dele.
- Ok. Vou deixá-la entrar, mas não mexa em nada.
O apartamento estava na maior confusão. Tudo jogado no chão. Os armários abertos, as gavetas desarrumadas e um policial estava revirando os bolsos das roupas penduradas no armário.
- O que o senhor procura?
- Drogas.
- Desista. Ele não se droga, é maluco por natureza.
- Não é possível! Se tem pólvora, tem que ter droga.
- Senhor, ele não se droga. Eu saberia.
- Tem coisas que a gente não conta nem para a irmã.
- Eu sei. Mas “isso” eu saberia.
- Vou achar droga aqui... (continuou teimoso)
- O senhor já vasculhou tudo?
- A cozinha e a sala já. Estou no quarto e vou para o banheiro quando acabar aqui.
- Ok. Será que eu posso usar o banheiro? Preciso muito.
- Vá.
Entrei no banheiro, fechei a porta com cuidado e fui direto para o armário grande e procurei a pólvora. Achei. Meu Deus! Era mais de um quilo, com certeza! Olhei ao redor e achei um vidro de Nescafé vazio que ele usava para colocar a pólvora para os shows. Enchi o vidro de pólvora e despejei o resto na privada, tomando o cuidado de colocar o vidro no lugar onde estava a pólvora anteriormente. Eles tinham que achar alguma coisa, pensei. Se o Bimbão tivesse que ir para a cadeia que fosse por ser doidinho (que ele é) e não por ser terrorista (que ele não é). Saí quietinha do banheiro e fiquei só observando.
A bagunça durou o dia todo. Quando começava a anoitecer, ele apareceu. Tinha sido solto porque provamos que ele é só maluco e não outra coisa. Entrou no apartamento e ficou horrorizado com a bagunça.
- Nossa! Estou morrendo de fome!
- Bimbão, saí com tanta pressa que não trouxe nem a bolsa. Estou até sem os documentos do carro. Não tenho nenhum dinheiro aqui.
- Eu também não, mas vou resolver isso.
Saiu do apartamento (eu fui junto) e tocou a campainha do vizinho, cuja porta ele havia destruído.
- Desculpe pelos estragos, juro, vou pagar por tudo! Seu David, hoje o dia foi meio difícil para mim, não tive tempo de ir ao banco (claro, ele estava preso!) e estou sem dinheiro, poderia me emprestar 10?
Eu pensei: “É agora! O velhinho (pois se tratava de um senhor idoso) vai ter um piripaqui!
Para meu espanto, ele foi prontamente pegar o dinheiro e ainda perguntou:
- Meu filho, isso chega?
Pode??? Fiquei boquiaberta. Voltamos para o apartamento e falei para ele:
- Bimbão, pelo menos vá se desculpar com a síndica. Eu fico aqui te esperando e depois vamos comer.
O tempo foi passando e ele não voltava. Minha agonia aumentando. Será que ela matou o Bimbão só de raiva?
Desci para ver o que estava acontecendo. Toquei a campainha e a sindica atendeu.
- Meu irmão está aqui?
- Sim, entre. Ele está fazendo um lanchinho. Coma também. Com certeza vocês não comeram nada.
Entrei na sala e o Bimbão estava tomando chá com bolo. Falei:
- Dona Norma, desculpe os transtornos de hoje.
- É, foi horrível. O prédio todo estremeceu. Teve gente que saiu de cuecas, outros de camisola. Alguns saíram só com os documentos e a imagem de Nossa Senhora.
- Lamento muito. Vamos consertar tudo.
- Eu sei! Você sabia que eu apareci na TV? Noticiário do meio dia. Veja o jornal da noite e me diga se estou muito feia. Não tive tempo de me arrumar. Eu estava de camisola, lá na rua.
Fiquei mais pasma ainda. Que gente é essa? O lesado deu dinheiro para ele. A sindica está preocupada com a imagem. O que é isso?
Isso é Bimbão!! Meu muito amado irmãozinho!!!

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